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Artigos › 18/08/2017

A chave da existência humana

A pergunta acerca do sentido da vida é um questionamento que assola o coração humano. O ser humano sendo portador de racionalidade, diferentemente dos animais, tem consciência acerca de si mesmo e é capaz de indagar-se sobre o significado da sua existência. Esta pergunta está relacionada à busca da felicidade que também é inerente à existência humana.

No entanto, o ser humano frequentemente se perde diante desta pergunta. É  comum ele procurar responde-la cultivando atitudes de busca desenfreada de auto realização que o coloca na contramão do sentido da vida. A sua ânsia por felicidade, o faz muitas vezes se auto compreender como portador de um direito egocêntrico de ser o centro de tudo e isto acaba por lesar a essência da sua vocação. Para me explicar melhor, lanço mão de uma imagem: O ser humano não é um espiral para dentro, ele é uma espiral para fora.

 Sendo o homem criado a imagem e semelhança de um Deus Trinitário, comunhão de pessoas divinas, ele possui em si um chamado a  solidariedade e só se realiza na vivência desta sua vocação. “Esta semelhança torna manifesto que o homem, única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma, não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo” (Gaudium et Spes, n. 24).

Ser solidário revela a grandeza do chamado humano, bem como o caminho indispensável para ele humanizar-se. Quanto mais ele vive esta abertura solidária aos outros mais ele se humaniza, por outro lado, quanto mais ele se fecha em esquemas egoístas, mais ele se deforma e se auto destrói.

 A Solidariedade pode ser definida como o  compromisso de vida entre duas ou mais pessoas, através do qual se cresce e se realiza mediante a busca da promoção do outro, ou dos outros. Este componente antropológico faz do ser humano também, profundamente dependente dos outros para se auto desenvolver. “Quando nasce o homem não dispõe de tudo aquilo que é necessário ao desenvolvimento de sua vida, corporal e espiritual. Precisa dos outros” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1936).

Isto demonstra que a vida social não é algo acrescentado à existência humana, mas parte integrante da sua sublime vocação. “Deus porém não criou o homem sozinho (…), pois o homem, por sua própria natureza, é um ser social, que não pode viver sem desenvolver as suas qualidades sem entrar em relação com os outros” (Galdium et Spes 12).

Desde as primeiras páginas do livro do Gênesis, já se fala da criação do homem e da mulher, a imagem e semelhança do Criador e chamados a uma vida de harmonia e comunhão com ele.  Quando o ser humano reivindica, através do pecado, conduzir a sua vida em ruptura com Deus, ele trai a sua vocação e se desordena interiormente.

        “Rompido assim pelo pecado o eixo primordial que submete o homem ao domínio amoroso do Pai, irromperam todas as escravidões (…). Penetraram no mundo o mal, a morte e a violência, o ódio e o medo. Estava destruída a convivência fraterna” (Documento de Puebla, n. 185-186). Assim, a vida social, que segundo o Plano de Deus na criação, deveria expressar a sua soberania amorosa, “apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas” (Gaudium et Spes, n. 13).

Mas Deus não se deixou levar pela ingratidão humana. Movido por entranhas de misericórdia, ele amou tanto o mundo que deu seu Filho único (conferir: João 3,16). Resgatado em Jesus Cristo, mediante a sua encarnação, paixão, morte e ressurreição o homem tem, pela ação do Espírito Santo, a imagem de Deus regenerada nele e pode viver relações de justiça e fraternidade. Aqui a solidariedade humana, embora tendo uma amplitude universal por ser inerente a existência humana, se reveste de um significado novo e adquire dimensões especificamente cristãs.

Pe. Djalma Lopes Siqueira
Vigário Geral da Diocese de São José dos Campos e
Reitor do Seminário Propedêutico

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