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Artigos › 26/01/2015

Curso para bispos

| Cardeal Orani João Tempesta – Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Está aproximando-se, como tradicionalmente ocorre em todo mês de janeiro, mais um curso anual promovido, desde o Cardeal Eugênio Sales, pela Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro para os Bispos brasileiros que, tendo essa possibilidade passam uma semana de estudos, orações, descanso e lazer no Centro de Estudos e Formação do Sumaré, aqui no Rio de Janeiro. Muito se fala sobre a figura e a missão do Bispo. A Igreja tem a missão de anunciar e propagar o Reino de Deus até os extremos confins da terra, a fim de que todos os homens creiam em Cristo e assim cheguem à vida eterna. A missão própria, que Cristo confiou à sua Igreja, é de ordem religiosa. Contudo, é dessa missão religiosa que brotam as tarefas, a luz e as forças que podem contribuir para construir e consolidar a comunidade dos homens segundo a Lei divina.

 

O Bispo é o princípio visível de unidade na sua Igreja. É chamado a edificar incessantemente a Igreja Particular na comunhão de todos os seus membros e, destes, com a Igreja Universal, vigiando, a fim de que os diversos dons e ministérios contribuam para a comum edificação dos crentes e com a difusão do Evangelho. Sucessores dos Apóstolos (Apostolorum Sucessores) por instituição divina, os Bispos, mediante o Espírito Santo que lhes é conferido na consagração episcopal, são constituídos Pastores da Igreja com a tarefa de ensinar, santificar e guiar, em comunhão hierárquica com o Sucessor de Pedro e com os outros membros do Colégio Episcopal.

O fato de ser sucessores dos Apóstolos dá aos Bispos a graça e a responsabilidade de assegurar à Igreja a nota da apostolicidade. Para que o Evangelho se conservasse sempre íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como seus sucessores os Bispos, confiando a eles a sua tarefa própria de magistério. Por isso, os Bispos, ao longo das gerações, são chamados a guardar e a transmitir a Sagrada Escritura e a promover a Traditio, isto é, o anúncio do único Evangelho e da única fé, na íntegra fidelidade ao ensinamento dos Apóstolos; ao mesmo tempo, assumem o dever de iluminar, com a luz do Evangelho, as questões novas que as mudanças das situações históricas da humanidade continuamente apresentam (mudanças em questões culturais, sociais e econômicas, científicas e tecnológicas etc.). Os Bispos, além disso, têm a tarefa de santificar e guiar o Povo de Deus cum et sub Petro, em continuidade com a obra realizada pelos seus predecessores Bispos e com o dinamismo missionário.

O Bispo, diante de si mesmo e dos seus deveres, deve ter presente, como centro que delineia a sua identidade e a sua missão, o mistério de Cristo e as características que o Senhor Jesus quer para a sua Igreja, “povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (LG, 4). É, de fato, à luz do mistério de Cristo, Pastor e Bispo das almas (cf. 1Pd 2,25), que o Bispo compreenderá sempre mais profundamente o mistério da Igreja, na qual a graça da consagração episcopal o colocou como mestre, sacerdote e pastor para guiá-la com a sua mesma autoridade.

Como mestre da fé, santificador e guia espiritual, o Bispo sabe que pode contar com uma especial graça divina, conferida na ordem episcopal. Tal graça o sustenta no seu consumir-se pelo Reino de Deus, pela salvação eterna dos homens e também no seu empenho para construir a história com a força do Evangelho, dando sentido ao caminho do homem no tempo.

Vigário do “grande Pastor das ovelhas” (Hb 13,20), o Bispo deve manifestar, com sua vida e com o seu ministério episcopal, a paternidade de Deus, a bondade, a solicitude, a misericórdia, a doçura e a confiança de Cristo, que veio para dar a vida e para fazer de todos os homens uma só família, reconciliada no amor do Pai. O Bispo manifesta, também, a perene vitalidade do Espírito Santo que anima a Igreja e sustenta diante da fraqueza humana; esta índole trinitária do ser e do agir do Bispo tem a sua raiz na mesma de Cristo. Ele é o Filho eterno e unigênito do Pai desde sempre no seu seio (cf. Jo 1,18) e o ungido pelo Espírito Santo enviado ao mundo (cf. Mt 11,27; Jo 15,26; 16,13-14).

É importante também ressaltar que já há alguns anos fazemos aqui no Rio de Janeiro este encontro com vários Bispos. Trata-se de um encontro aberto a todos os Bispos e que acontecerá neste mês, dos dias 26 até 30. Este ano será o 24º Encontro e teremos como tema: 1- As relações da Igreja com as Religiões não cristãs, a partir do Documento do Concílio Vaticano II Nostra Aetate; 2- Relações com os meios de Comunicação Social (Documento Inter Mirifica); 3- Liberdade Religiosa (Declaração Dignitatis Humanae). Este encontro, além de ser um estudo é um convívio para todos nós, irmãos no episcopado.

Os temas deste ano encerram o nosso aprofundamento dos documentos do Concílio Vaticano II. Nesses tempos em que comemoramos o jubileu áureo do Concílio, tivemos oportunidade de ter neste Curso para Bispos, no decorrer dos últimos anos, todos os documentos conciliares sendo aprofundados, assim como os desenvolvimentos posteriores. Com os três documentos deste ano, concluímos o estudo e aprofundamento dos mesmos. Isso tem sido de uma grande riqueza e beleza para todos nós. Cardeais e Bispos que se sucedem para partilhar seus conhecimentos neste Curso nos enchem de alegria e nos ajudam a servir ainda melhor à Igreja diante das manifestações do Espírito Santo.

O Papa Francisco tem pedido com insistência que rezem por ele. Como é bom repetir o que é justo e necessário! De minha parte o que posso pedir a todos os meus arquidiocesanos, povo dessa querida Cidade Maravilhosa e também meus leitores é que, nestes dias, rezem por nós, para que possamos bem desempenhar a nossa missão à frente da grei de Cristo.

Que sejamos todos os bispos, antes de mais nada, pastores em favor do Povo de Deus! Que Deus vos abençoe!

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