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Artigos › 16/10/2015

Divórcio, por que os filhos têm que pagar o pato?

Padre Djalma Lopes Siqueira | Vigário Geral da Diocese de São José dos Campos, reitor do Propedêutico

 

Cada vez mais as famílias têm sido obrigadas a lidar com a dura realidade do divórcio. É um acontecimento que deixa profundas feridas nos cônjuges, pois toda ruptura relacional é traumática. Em se tratando do vínculo conjugal, os traumas se dão num nível muito profundo e levam um tempo para que os cônjuges processem a nova realidade de suas vidas.
A Igreja, à luz do Evangelho, reafirma com convicção a verdade da indissolubilidade matrimonial. Por outro lado, com atitude materna, ela procura ter um olhar solícito para com as famílias que vivem este drama. Por isso, hoje, os casais de segunda união estão na pauta das iniciativas pastorais da Igreja.
O Sínodo dos bispos que está acontecendo neste mês, em Roma, deseja que esta solicitude da Igreja seja sentida de forma ainda mais clara. Não se trata de mudar aquilo que é constitutivo do matrimônio cristão, conforme a revelação bíblica. Neste sentido, a Igreja ensina que se deve fazer todo o esforço para se evitar chegar à decisão da separação. Este empenho possui um imperativo moral, pois o matrimônio e a família possuem um significado divino.
“O matrimônio e a família no projeto original de Deus são instituições de origem divina e não produtos da vontade humana. Quando o Senhor disse ‘no começo não foi assim’ (Mateus 19,8), refere-se à verdade sobre o matrimônio, que, segundo o plano de Deus, exclui o divórcio” (Documento de Santo Domingo, n. 211).
Mas quando o casal, independentemente da posição da Igreja, chega à decisão da separação existe ainda um longo caminho permeado de pedras que necessita ser percorrido. Aqui, é preciso muita ponderação e maturidade, pois a crise da separação pode fazer acirrar de tal forma os ânimos que as consequências podem ser desastrosas para toda a família. Os noticiários demonstram que esta é uma causa frequente de violência e até de assassinato de mulheres. O amor, de uma hora para outra é transformado em ódio e chega a atitudes radicais, se negando a permitir que a esposa reconstrua a sua vida.
Além disso, há também o envolvimento dos filhos que em qualquer fase da vida, sofrem com a decisão dos pais. Se forem pequenos, o problema ainda é mais delicado, pois eles não estão ainda em condições de entenderem a decisão dos pais e as razões que os levaram a esta opção. As tendências mais comuns são a culpa, o sentimento de rejeição, a tristeza, a rebeldia e o medo de serem abandonados.
Também os pais precisam se cuidar para não puxar para si um sentimento de culpa que faça com que a ferida da separação se torne ainda mais profunda. Devem saber separar a realidade dos filhos do conflito que se instalou na relação entre eles. Felizmente, muitos pais sabem trabalhar esta situação com maturidade, evitando que os filhos sejam envolvidos nos conflitos da separação.
Mas existem ainda situações lamentáveis, nas quais os filhos são trazidos para o centro do conflito e são usados como meios de vingança e retaliação em relação ao outro. Até as telenovelas têm trazido à tona esta problemática. Não existe nada mais injusto para com os filhos do que atitudes como esta. Além de enfrentar a dor da separação dos pais, são colocados como joguetes no meio da turbulenta relação dos pais, sendo obrigados a tomar partido.
Considerando que quem faz isto são os pais ou pelo menos um deles, é difícil de compreender como o amor materno ou paterno, que é tão rico de altruísmo, pode se permitir a uma mudança tão drástica. É uma passagem de um extremo ao outro que revela até que ponto as reivindicações de um ego ferido, pode levar a pessoa humana a instrumentalizar aqueles que ela mais ama. Apesar de ser num nível menor, se trata da mesma lógica despersonalizadora da violência física ou psicológica contra a mulher ou contra o homem, que recheiam os noticiários sensacionalistas e os programas de “pseudo histórias reais” das famílias. Em tudo, o bom senso deve prevalecer e os filhos devem ser poupados!

 

1 Comentário para “Divórcio, por que os filhos têm que pagar o pato?”

  1. Paulo Maia de Miranda disse:

    Duas lindas frases da agenda do Coração de Jesus. O amor não é a semente. O amor é o semear (“Mia Couto”). As crianças não brincam de brincar, brincam de verdade (“Mario Quintana”). E o mais importante o recado do Padre Djalma Lopes Siqueira.

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