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Notícias da Diocese › 26/09/2017

Ser igual entre os diferentes

Especiais. Essa pode ser a palavra que define aqueles que têm alguma deficiência.

Você sabia que, em 21 de setembro, é comemorado e lembrado em todos os estados brasileiros o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência? Essa data foi instituída em lei no dia de 14 de julho de 2005, mas já era lembrada desde 1982, por iniciativa de movimentos sociais.

Essa data foi escolhida porque é próxima ao início da Primavera (23 de setembro) e coincide com o Dia da Árvore, datas que representam o renascer das plantas, que simbolizam o sentimento de renovação das reivindicações em prol da cidadania, inclusão e participação plena na sociedade.

Foi Cândido Pinto de Melo, um ativista do movimento das pessoas com deficiência, que propôs, no início da década de 80, esta data. Cândido foi um dos fundadores do Movimento pelos Direitos das Pessoas Deficientes – MDPD, organização de pessoas com deficiência que já se reuniam mensalmente desde 1979, e discutiam propostas de intervenções para a transformação da sociedade paternalista e da ideologia assistencialista.

Quase 24% da população brasileira é composta por pessoas que possuem algum tipo de deficiência. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs).

Ao longo da história, têm ocorrido avanços na participação de pessoas com deficiência no processo de sensibilização e conscientização em favor de uma Igreja mais inclusiva e acolhedora.

Sabe-se que é um desafio diário, porém, já pode ser percebida uma mudança na maneira de ver a pessoa com deficiência como agente capaz de ser protagonista de sua própria história.

Trabalho Pastoral. Na Igreja Católica, várias dioceses contam com o apoio da Pastoral da Pessoa com Deficiência. A missão desse trabalho é planejar ações evangelizadoras e agir em prol dos deficientes por meio de ações como debates, fóruns, reuniões e discussões que possibilitem e favoreçam maior inserção social.

A Pastoral quer anunciar o evangelho a todas as pessoas, rejeitando uma imagem piedosa ou paternalista, em que se projeta a deficiência como um prêmio ou castigo.

Na Diocese de São José dos Campos a pastoral já existe em algumas paróquias. Como é o exemplo da Paróquia Espírito Santo. Os trabalhos pastorais lidados às pessoas com deficiência iniciariam por meio dos trabalhos do Grupo Vem Ser Feliz (GVSF), e desde novembro de 2015 é reconhecida como Pastoral.

Após 17 anos, a sementinha plantada germinou e a comunidade pode colher os frutos. O trabalho passou, então a ser integrado com a Catequese Infantil.

Além da Pastoral da Pessoa com Deficiência, a Catequese Infantil também assumiu o compromisso de trazer para o convívio social as crianças que muitas vezes, a família não sabia como inseri-las na sociedade.

O conteúdo programático é o mesmo da Catequese Infantil e da Pastoral do Crisma, entretanto apresentando de forma lúdica. A músicas, os filmes e os teatros fazem parte do cotidiano dos encontros. Um trabalho focado em ter uma catequese de convivência.

Mirian e Everton, ambos com deficiência intelectual, casaram-se e já receberam os sacramentos, mas pela acolhida e bem-estar que os encontros proporcionam a eles, o casal não abriu mão e marcam presença todo sábado.

Angelita está sob a coordenação da Pastoral da Pessoa com Deficiência e acompanhou o processo de evolução do casal, alcançada principalmente pela abertura que encontraram na Igreja. “A Mirian tem uma capacidade muito grande de fazer as coisas, mas a vida inteira teve essa percepção fixada na vida dela. E graças a simplicidade e acolhida da família dela, eles abraçaram a ideia e hoje ela tem uma vida conjugal como qualquer outra pessoa”, conclui.

Situação semelhante acontece na Paróquia Nossa Senhora do Rosário. O catequista Diego Oliveira da Silveira assumiu o grupo com crianças e jovens PCDs há mais ou menos dois anos e conta que a experiência está trazendo de volta para o convívio cristão não só esse público, mas principalmente as famílias.  “Além da Inclusão, que eles deveriam ter em todos os lugares, nós percebemos a evolução que eles tiveram na parte religiosa e amor a Deus que eles vêm desenvolvendo a cada encontro e amor a Maria nossa mãe”, ressalta Diego.

O outro lado. Kelly é educadora e também catequista na Paróquia Santa Cecília e já teve em turmas anteriores catequizandos com certo tipo de deficiência e na visão dela, temos muitas a serem feitas no sentido de estarmos preparados para acolher a todos, de forma igual. “Infelizmente, vejo que ainda não há uma preocupação genuína com a questão da inclusão. Um exemplo simples: será que o tamanho das portas das salas que são usadas para catequese é compatível para uma pessoa com cadeira de rodas? E os banheiros das igrejas e espaços pastorais? Isso seria o mínimo para acolher bem as pessoas.”

A catequista também nos chama a reflexão de que “é necessário que olhamos para essas pessoas com toda a dignidade que há nelas, e não veja a deficiência como algo a ser superado, mas como algo a ser adaptado pra que a vida dessas pessoas possa fluir. E que o crescimento pessoal e espiritual delas também possa acontecer com nossa acolhida e vida em comunidade’, conclui.

A Pastoral do Surdo é também um importante vetor acolhedor na Diocese. Várias paróquias já oferecem acessibilidade em Libras em missas e encontros como Pais e Padrinhos, Noivos, Encontros de Casais, entre outros. O resgate de pessoas que viviam isoladas no “silêncio” hoje já encontraram novamente um sentido para a vida.

Os materiais em vídeo produzidos pelo Departamento da Diocese, desde março de 2017 também já contam com o apoio da Pastoral do Surdo para serem divulgados com acessibilidade em Libras.

O jornalista e cadeirante, Luis Daniel, é agente da Pastoral da Comunicação e também produz conteúdo em seu blog “Reflexão sobre rodas” que aborda justamente o olhar de uma pessoa que necessita de uma cadeira de rodas para se locomover. Ele avalia como positivo as iniciativas promovidas pela Igreja, mas chama a atenção para a acessibilidade, no modo geral, apesar de que ele vê ainda uma questão muito assistencialista. “Vejo aqui na diocese que algumas paróquias tem uma preocupação maior com a acolhida, mas a maioria ainda não”, reivindica ele.

Campanha da Fraternidade. A CNBB trouxe o tema “Levanta-te, vem para o meio!” na Campanha da Fraternidade de 2006. O centro das atenções eram as pessoas com deficiência, que frequentemente eram e ainda são vítimas de preconceitos e discriminação. A tomada de consciência sobre as condições geralmente difíceis das pessoas com deficiência e para desencadear muitas iniciativas de efetiva inclusão delas era o objetivo da Campanha naquele ano.

Hoje, 10 anos depois, muito já foi feito. Há muito ainda o que fazer. Será que ao usarmos o termo “inclusão” já não denota que estamos fazendo certa “separação”? Nossa missão é ser corresponsáveis pela propagação da igualdade. Acolher ao invés de incluir.

Assim, construiremos um Reino onde aprenderemos cada vez mais com a superação dos que vencem suas limitações físicas, e principalmente, aprenderemos que a comunicação entre o ser humano é mais do que os sons que possamos emitir.

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